quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A fobia de ficar longe do celular


(Foto: Pixabay)


Entrevista sobre Nomofobia (vício em celular) concedida ao jornalista Nycolas Santana para o site
 Opinião E Notícia

Nos últimos anos, avanços tecnológicos têm tornado os celulares cada vez mais indispensáveis. O acesso à internet nos aparelhos ampliou as possibilidades de comunicação, mas essa rápida evolução também gerou um novo problema. Para muitos, a obsessão pelo celular é tão intensa que se caracteriza como um quadro de dependência com efeitos similares às drogas pesadas, como ansiedade, perda de contato social e até mesmo depressão, além de outras consequências físicas e mentais que se agravam com o uso prolongado do celular.

O alerta é feiro pela psicóloga clínica Mônica Vidal, mestranda em Comportamento e Cognição Humana na Universidade de Barcelona, que em entrevista ao Opinião e Notícia apresentou um novo transtorno do século 21: o medo de se afastar do telefone celular, ou a “nomofobia”, uma palavra derivada da expressão em inglês No Mobile Phobia“Esse transtorno é caracterizado pelo medo irracional de permanecer isolado e desconectado do mundo virtual”, define a psicóloga.

Tecnologia móvel

Segundo um levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em 2014 haviam 273,58 milhões de telefones celulares ativos no Brasil, superando o número de habitantes no país e 10 milhões a mais que no ano anterior.

Em uma recente pesquisa de conectividade, a empresa americana do ramo da tecnologia de celulares Qualcomm relevou que o Brasil é o quarto país mais conectado da América Latina e o 44º do mundo, em um ranking de 73 países. Na classificação, o Brasil está como intermediário – as classificações possíveis são ultraconectado, avançado, intermediário e emergente –, mas a pesquisa indica que o Brasil tende a avançar rapidamente nessa questão.

Com uma conectividade maior, o acesso à informação se torna mais fácil. Para Mônica, o acesso à internet, facilitado pelas tecnologias móveis, faz com que “o usuário não seja somente um consumidor de informação, mas também gerador de conteúdo” em um mundo hiperconectado.

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Segundo a Qualcomm, o Brasil é o 4º país mais conectado da América Latina (Foto: ITU Pictures)
O aumento da velocidade de circulação da informação também influi na percepção do tempo. Para a psicóloga, há uma necessidade de imediatismo por parte das pessoas que se expõem demais à tela do celular. “Se uma pessoa envia uma mensagem e você não responde imediatamente, fica uma situação desconfortável”, diz a psicóloga.

“As relações digitais também dão uma ilusão de companhia, o que pode provocar relações superficiais entre as pessoas”, acrescentou. Uma das características da nomofobia é a tendência a supervalorizar os relacionamentos e as atividades online em detrimento das atividades presenciais.

Além disso,  a pessoa exposta ao celular pode perder a noção do tempo, o que ela classifica como “um estado alterado da consciência” que ocorre quando a pessoa se mantém em “um estado progressivo de contemplação”. “Por isso as pessoas ficam conectadas mais tempo do que pretendiam estar”, diz.

Características da nomofobia

“A pessoa que tem nomofobia apresenta um quadro semelhante à síndrome de abstinência de pessoas que são usuárias de drogas, trazendo um comprometimento tanto da saúde física quanto mental, além das esferas psicológicas, sociais e comportamentais”, afirma a psicóloga. “Geralmente a nomofobia está associada a outro transtorno, como ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, transtorno obsessivo compulsivo, bipolaridade, depressão, entre outros.”

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Uma das características da nomofobia é o isolamento de atividades diárias (Foto: Pixabay)
Os principais sintomas da nomofobia são a sensação de vazio existencial, angústia, desespero, irritabilidade, baixa autoestima, rejeição e também problemas físicos, como dores na coluna, torcicolo, lesão por esforço repetitivo, tremores, insônia, náusea, estresse, sudorese, tensão muscular, ressecamento de retina e perda auditiva.

Há sinais que indicam quando a pessoa pode ter nomofobia, como por exemplo, a checagem constante do celular, a procrastinação de tarefas diárias e o isolamento de atividades sociais.

A psicóloga alerta que a exposição exagerada compromete o rendimento escolar ou profissional, além de prejudicar o sono.  “A pessoa não consegue se desligar mentalmente da sua vida online. Ela chega a sonhar com o que fez no celular”, diz.

Segundo uma pesquisa da empresa francesa Ipsos, 18% dos brasileiros acima de 16 anos entrevistados em 70 cidades admitiram ser dependentes de seus celulares. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2013, 66% da população brasileira acima de 10 anos tem pelo menos um celular.

Tratamento

Mônica admite que na atual configuração social, há uma dificuldade de se distanciar das tecnologias móveis. No entanto, ela recomenda que as pessoas procurem um uso produtivo, que não comprometa a qualidade de vida. A psicóloga sugere limitar o uso diário para equilibrar a vida social e online.

O primeiro passo para tratar a nomofobia é reconhecer o problema e buscar uma solução. “Não tem como ajudar uma pessoa com algum problema se ela não reconhece que ela tem um”, diz. A partir daí, a pessoa pode ser levada para acompanhamento psicológico, ou se o quadro for mais grave, psiquiátrico, com uso de medicação para reduzir os níveis de ansiedade. Mônica também considera o apoio familiar fundamental para o tratamento.

Outra maneira de combater o vício está no próprio uso dos celulares, através de aplicativos que limitam o uso diário do aparelho, como o Break Free, Mental e Moment. No entanto, a psicóloga destaca que os aplicativos não substituem o tratamento psicológico.


Cuidado com crianças e adolescentes

O nível de atenção à exposição aos dispositivos móveis deve ser ainda maior para crianças e adolescentes. “A exposição excessiva das crianças e dos adolescentes pode causar danos e prejuízos no desenvolvimento do cérebro, comprometendo a atenção e o foco”, afirma Mônica.

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Crianças e adolescentes correm o risco de acessar conteúdos impróprios (Foto: Pixabay)
Em relação ao tempo de exposição ideal aos celulares, tablets e até mesmo à televisão, ainda não há uma recomendação padrão. É preciso usar o bom senso.

“Em média, é recomendável que crianças de um a dois anos de idade se exponham a no máximo 20 minutos e crianças de três a quatro anos até duas horas por dia”.

A psicóloga também alerta para possíveis casos de cyberbullying e de divulgação imprópria de conteúdo entre jovens, o que também resulta de uma exposição longa às tecnologias móveis. “Uma vez que um conteúdo cai na rede, você perde o controle sobre ele”, alerta.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

A geração conectada

 

As crianças de hoje são consideradas nativas digitais porque nasceram em um contexto em que as novas tecnologias já estão inseridas em nossa cultura e naturalmente fazem parte da vida de um grande número de pessoas. Porém até que ponto o uso cada vez mais precoce de aparelhos como tablets e smartphones pode afetar o desenvolvimento infantil? Existe um limite a ser imposto?

O uso excessivo de tablets e smartphones por crianças pequenas não é aconselhável porque pode afetar o processo de desenvolvimento natural do cérebro, o que compromete a aprendizagem, aumenta a impulsividade e favorece o surgimento de transtornos como o de déficit de atenção. Bebês ainda não possuem estrutura física para aproveitar as brincadeiras com aparelhos eletrônicos, pois até os 6 meses a visão ainda não está desenvolvida o suficiente para que consigam focar a tela. 

Porém sabemos que não é possível proibir totalmente o uso desses aparelhos, pois vivemos em uma era conectada e as crianças fazem parte dela. Além disso os pequenos são curiosos por natureza: tudo é novidade e gostam de descobrir o mundo e festejar seus achados. 

Durante a primeira infância a família exerce grande influência sobre as atitudes e comportamentos da criança porque representa o primeiro núcleo de contato com o mundo fora da barriga da mamãe. Por isso recomendamos que os próprios pais limitem seu tempo de uso de aparelhos eletrônicos, principalmente se estiverem na presença da criança, pois ela vai querer fazer igual. 

Caso a criança demonstre interesse pelo aparelho, apresente-o naturalmente pois para ela trata-se de apenas mais um brinquedo. Inclusive há aplicativos que estimulam o aprendizado através da música, de historinhas ou de joguinhos; porém fique atento à classificação etária para ver se está adequada à idade de seu filho. 

Crianças pequenas gostam de música de ritmo constante, repetido e rimas simples. Evite aplicativos e jogos barulhentos, com sequências muito rápidas, porque provocam grande excitação e podem parecer assustadores aos olhos e ouvidos ainda bastante sensíveis dos pequenos.

Os pais possuem competência para saber o que é melhor para seus filhos. Portanto caso você decida permitir que seu pequeno brinque com smartphones/tablets, recomendamos que o tempo de exposição não exceda a 20 minutos para crianças de 1 a 2 anos. Para as crianças maiores (3 a 4 anos) é possível permitir até 2 horas por dia de exposição a telas em geral, incluindo a da TV e dos demais aparelhos. 

Não há problema quando o aparelho se transforma em um brinquedo, mas ele não deve ser o único brinquedo. Ofereça à criança diferentes opções de entretenimento e lazer incluindo passeios e atividades ao ar livre. A criação de jogos e novas brincadeiras fora do contexto tecnológico incentiva a imaginação e a fantasia que são fundamentais para o bom desenvolvimento físico e mental. 

Uma boa dica é promover uma oficina de criação de brinquedos, onde a criança constrói seu próprio brinquedo a partir de materiais não estruturados: papelão, fitas coloridas, elástico, papel crepom, etc. Depois de confeccionados os brinquedos podem ser trocados entre os coleguinhas, o que estimula o desapego, a generosidade e o aprendizado de boas regras de convívio social. Isso sem mencionar o orgulho de criar um brinquedo legal com suas próprias mãozinhas!

Por fim, recomendamos que o uso de aparelhos tecnológicos sejam sempre supervisionados por um adulto responsável, principalmente se ele estiver conectado à internet, pois mesmo que os pequenos dominem de maneira espontânea seu manuseio, ainda não têm maturidade suficiente para saber os limites entre o certo e o errado e o que devem e não devem fazer na rede. Isso os torna alvos fáceis de abusadores e outros criminosos. Esse é um alerta importante em todas as idades.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O boicote nosso de cada dia



As desculpas do tipo " eu não tenho tempo " são formas, muitas vezes inconscientes, de boicotar a si mesmo. Esse boicote acontece devido ao medo de se arriscar e de sair da sua zona de conforto. Esse comportamento te protege da frustração mas ao mesmo tempo faz com que você não evolua, não cresça e fique estagnado. Não tenha medo de ir atrás dos seus sonhos e se não der certo da primeira vez, tente várias vezes até conseguir. Lá no fundo você sabe que tem tempo sim pra ir atrás dos seus sonhos; portanto chega de esperar, pois a vida passa muito rápido. Evite lamentar-se no futuro pelas coisas que você sempre quis mas nunca fez alegando falta de tempo.

domingo, 29 de março de 2015

Organização e método



Bons resultados dependem de organização método. Evite o pânico pelo acúmulo de tarefas. Solucione primeiro os problemas mais simples e reserve um tempo maior para os mais complexos. Que tal começar agora?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

10/2: Dia Mundial da Internet Segura




Hoje, dia 10/2, comemora-se o Dia Mundial da Internet Segura. Psicologia & Atualidades participa dessa iniciativa com a divulgação da Cartilha de Segurança para a Internet elaborada pelo CERT.BR (Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil). Mantenha-se informado e oriente sua família, pois a prevenção é a melhor solução. Clique no link abaixo:

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Comportamento, tecnologia e relacionamentos



Entrevista concedida à jornalista Juliana Vines, da Folha de São Paulo.

Juliana Vines: Uma análise feita pelo site de relacionamentos OKCupid diz que quando estão on-line os usuários costumam ser mais rigorosos com beleza, mas quando vão a encontros a cegas a beleza passa a ser um fator menos importante. As pessoas se comportam de maneira diferente na internet? São mais exigentes? 

MV: Estereótipos de beleza e comportamentos valorizados na atual sociedade de consumo muitas vezes determinam as características desejadas em um(a) potencial pretendente. Quando se trata de selecionar um perfil de alguém que não conhecemos pessoalmente, elementos da comunicação presentes tanto na linguagem corporal quanto na linguagem falada, que são de fundamental importância, não estão presentes. Conta-se apenas com informações providas pela linguagem escrita e pela foto, além dos algoritmos que combinam desses dados.

No universo presencial, captamos as informações do mundo através dos nossos órgãos dos sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar). Nas interações on-line, a ausência desses elementos é compensada por recursos como os emoticons para expressar nossos sentimentos com maior fidedignidade e evitar possíveis mal-entendidos causados justamente pela falta de elementos sutis da comunicação, como tom de voz e expressões faciais/corporais. Por isso, em encontros presenciais as pessoas tendem a valorizar menos a aparência física, já que contam também com outros recursos que irão indicar se aquela pessoa é ou não atraente.

JV: Outro resultado interessante é o fator raça. No OKCupid a maioria das pessoas diz não se importar com raça, mas os dados mostram que a maioria continua se relacionando entre a mesma raça. E a maioria dos homens só entra em contato com mulheres com menos de 30 anos, mesmo os mais velhos. Será que somos seletivos demais na internet?

MV: Nesse caso penso que seria mais adequando falar sobre etnia ao invés de raça, pois raça refere-se apenas às características físicas. Quando falamos sobre etnia, atém das características físicas estamos nos referindo também às características da cultura, da nacionalidade, da religião, do idioma, das tradições de um indivíduo. Etnia é um conceito mais amplo e descreve uma pessoa com maior fidedignidade. Esse conjunto de fatores reflete nossa visão de mundo, nossos, valores, nossas crenças e são esses elementos que influenciam na hora de analisar se temos ou não afinidade com outra pessoa.

No caso de homens que preferem mulheres com menos de 30 anos – Sociedades tradicionais construídas com base em valores patriarcais, tendem a aprovar a união de um homem mais velho com uma mulher mais jovem; porém o contrário não costuma ser socialmente aceito. A justificativa até então dada era a de que as mulheres em idade fértil são consideradas mais atraentes, pois o ser humano, assim como outras espécies, possui um instinto natural de continuidade da espécie e disseminação dos genes. Porém as conquistas dos movimentos feministas, bem como de diversos outros movimentos que reivindicam mudanças de valores e paradigmas em nossa sociedade vêm mudando esse cenário. Ainda há resistência e preconceito, porém felizmente vejo que a sociedade como um todo está caminhando para uma maior aceitação da diversidade e valorização da felicidade em detrimento dos valores morais da sociedade tradicional.

JV: Podemos dizer que as regras da conquista on-line são diferentes das regras "no mundo real"?

MV: As regras da conquista on-line são diferentes das regras da conquista no mundo presencial porque na primeira há perda de elementos da comunicação não-verbal que são fundamentais para a conquista. Tanto homens quanto mulheres são dotados de recursos naturais que indicam ao parceiro quando estão interessados: tom de voz mais grave e aveludado, jeito de olhar, de tocar o próprio corpo e o corpo do pretendente, postura mais elevada, diminuição da distância corporal, etc. Porém nem todos conseguem “ler” esses sinais. Além disso, há quem os interprete equivocadamente, gerando uma situação constrangedora para ambos, já que a sutileza geralmente faz parte esses rituais de conquista.

Por outro lado, a conquista on-line é mais objetiva, elimina etapas e resguarda o sujeito da rejeição e de possíveis decepções. Atualmente cada vez mais relacionamentos começam pela internet e evoluem para o presencial. Acho que ambas as modalidades (tanto a conquista presencial quanto a conquista através de aplicativos e recursos tecnológicos) são válidas, já que o ser humano gosta de viver em sociedade, gosta de se relacionar. Todo mundo merece ser feliz com seu parceiro(a).

JV: Somos influenciados pelas regras e algoritmos desses sites. Até que ponto isso é bom? Isso ajuda ou atrapalha?

MV: Vivemos em uma sociedade onde o tempo parece cada vez mais escasso e por isso tornou-se uma espécie de moeda de troca. O fenômeno da internet provocou profundas mudanças nos setores econômico, político, social, cultural e comportamental das sociedades. No caso do site de relacionamentos OKCupid, o fato de utilizar algoritmos para aproximar casais em potencial nada mais é do que uma economia de tempo. Imagine quanto tempo e energia seriam despendidos em uma (ou várias) conversas presenciais para poder analisar o estilo de vida como os gostos, preferências, hobbies, visão política, religiosa e projetos futuros de um pretendente?

Não sei se isso é bom ou ruim, pois cada pessoa vivencia essas experiências de encontro de uma forma subjetiva. Uns gostam de descobrir o(a) parceiro(a) aos poucos, como se cada achado fosse uma surpresa; porém outros são mais objetivos e preferem não perder tempo. Fato é que os algoritmos eliminam etapas da paquera e otimizam os encontros de acordo com as expectativas dos usuários. Nesse sentido, eles influenciam sim.

Porém eles também podem errar, pois muitos casais se atraem justamente por causa das diferenças. Um encontra no outro qualidades e/ou características que não identificam em si mas que o complementam. Pense no quão chatas seriam as relações se não houvesse diversidade, diferenças de visões e opiniões? As diferenças também contribuem para o estreitamento de laços e para o aprendizado nas relações. Quando se trata de ser humano, a estatística nem sempre funciona, dado que somos seres complexos e dotados de subjetividade.

Outro aspecto relevante é que esses recursos, além de economizarem tempo e objetivarem a busca pelo(a) parceiro(a), também contribuem para reduzir a probabilidade de ser rejeitado por um (a) pretendente. Pessoas que possuem baixa autoestima ou pouca tolerância à frustração podem beneficiar-se desse recurso num primeiro momento. Porém vale ressaltar que a frustração faz parte da vida e aprender a lidar com ela é sinal de amadurecimento e, consequentemente, uma característica das relações saudáveis.