É fácil confundir amor próprio com egoísmo. Às vezes a pessoa que demonstra gostar de si mesma pode ser mal-interpretada pela sociedade e até discriminada, passando por narcisista e egocêntrica. Quando trata-se de relacionamentos conjugais, esse equívoco pode levar à crença de que uma boa relação é aquela em que o casal se mistura de tal maneira que se forma um todo indivisível.
Porém, muitos relacionamentos fracassam
exatamente por causa da dependência afetiva construída na relação quando o
casal, ao invés de perceber-se como dois indivíduos unidos em uma relação, torna-se
uma unidade simbiótica.
Pessoas que vinculam-se ao parceiro ou
parceira de maneira simbiótica, tendem a possuir Personalidade Dependente. Em resumo, apresentam as seguintes características :
- Tendência a transferir a responsabilidade para o outro;
- Medo de ser abandonado;
- Percepção de si mesmo como sendo fraco e incompetente;
- Submissão;
- Dificuldade de discordar dos outros;
- Permitem que outras pessoas tomem decisões em seu lugar;
- Fazem qualquer coisa para obter carinho e aceitação.
Em uma relação simbiótica, ambas as partes saem perdendo: o dependente, por não conseguir seguir sua vida adiante de maneira autônoma; o cuidador, por carregar o fardo da responsabilidade pela felicidade e bem-estar do parceiro. No final das contas ninguém fica feliz e a relação muitas vezes se retroalimenta através da acomodação, gerando um círculo vicioso.
É nesse cenário que se propõe a
substituição da ideia de fusão afetiva pela ideia de fissão afetiva, ou seja,
pela estimulação da autonomia entre os cônjuges. Isso não significa que o
casamento tenha que acabar, e sim que é possível - e desejável - viver livre em parceria. Para
isso é preciso reestruturar a forma de enxergar o mundo, já que as pessoas costumam acomodar-se por medo do novo, do desconhecido. Estar aberto a mudanças
significa permitir a si mesmo novas experiências de vida e novas maneiras de
lidar com o parceiro sem depender dele (a) afetivamente. Erros e acertos fazem parte da vida.
A pessoa dependente deve dar a
chance de mostrar a si mesma que é capaz de pequenas realizações, dia após
dia, de maneira particular, autônoma e bem-sucedida. Para isso, deve colocar-se em
situações desafiadoras de maneira gradativa. Assim ela poderá, aos poucos,
comemorar pequenos feitos e mostrar a si mesma – e ao outro também – que é
possível ser feliz sem que o parceiro (a) seja uma condição fundamental para isso.
No final, a pessoa pode
surpreender a si mesma ao dar-se conta de que possui uma grande capacidade de
superação. Essa constatação gera muita alegria e sentimento de realização
pessoal.
Na relação conjugal saudável, ao
invés de se misturar, o casal deve contribuir para que o parceiro possa
tornar-se um indivíduo melhor e mais feliz em sua singularidade. Com vontade,
dedicação e uma boa dose de coragem é possível harmonizar o “eu” e o “nós” sem
que, para isso, seja preciso estar só. Não é nada fácil, mas vale a pena
tentar.